<$BlogRSDUrl$>
Comente, p.f.:

quinta-feira, outubro 09, 2003

62. António Guerreiro, no Suplemento Actual (acesso pago) do Jornal Expresso apresenta em "A reportagem universal", uma critica ao universo dos blogues, discurso em grande parte construído no rebater das teses da influência positiva que o aumento da expressão individual significa para a criação de uma maior massa crítica no tecido social. "Tentaremos, sempre que isso se justificar, abrir a antena para a nossa blogosfera, ou blogolândia" para o debate ou confronto de opiniões com as ideias deste artigo de opinião. Começamos desde já por registar a interacção discursiva existente entre este e o metablogue anterior, "Ciúme".

"A reportagem universal

O novo fenómeno da comunicação chamado blog é um bom observatório das características do nosso espaço público e da hegemonia do discurso da opinião.
Subitamente, levantou-se uma euforia no mundo da publicidade - do espaço público - não propriamente por causa dos factos que produzem notícias, mas por causa das notícias que são culpadas dos factos, como diria Karl Kraus, cuja actualidade é cada vez mais notória. A jubilosa catástrofe - quotidiana, como são as verdadeiras catástrofes - chama-se blog. Não é um fenómeno completamente novo, mas, entre nós, surgiu há pouco tempo organizado segundo regras próprias, reivindicando uma certa autonomia, e já se tornou um respeitável objecto de estudo.
Não se pode, obviamente, caracterizar os blogs em geral porque, tratando-se de um meio que dispõe de uma enorme liberdade, há-os de todos os géneros e sobre as mais variadas matérias: os que reivindicam o mero direito à expressão, os de agitação política, os paródicos, os pornográficos, os literários, os que servem um saber, um gosto, uma causa, uma obsessão. Potencialmente, nenhum território lhes é interdito porque não há limites para o seu poder de penetração. Os limites são os do próprio meio, eficaz nas mensagens curtas e no registo do imediato, mas inadequado a tudo o que requer outro ritmo e outra temporalidade. Temos, assim, mais um factor - ecológico - que intervém na obliteração de cronologias lentas, sejam elas culturais ou políticas.
O facto curioso, em Portugal, é que o interesse pelos blogs não foi suscitado, em primeiro lugar, por terem acedido à livre publicação indivíduos e grupos que dela estavam excluídos, mas por terem entrado na «blogosfera» (numa posição de domínio, pois aqui também se criaram hierarquias) nomes que, regularmente ou de maneira esporádica, escrevem nos jornais ou são convidados pelas televisões. Este é um sinal eloquente de que há hoje uma corrida ao espaço público mediático (sintoma de uma perda da efectualidade da cultura e das instituições do saber) e de que este não é capaz de se estruturar de outra maneira que não seja segundo o regime do mandarinato. É este regime o responsável pela hipertrofia da «opinião» que caracteriza a imprensa, em Portugal, e que a grande maioria dos blogs prolonga na perfeição. Os blogs mais frequentados, isto é, aqueles para onde estamos constantemente a ser remetidos através dos «links», quando entramos na «blogosfera», apresentam-se, assim, como uma esfera funcional das páginas de opinião dos jornais, mesmo quando têm um registo diarístico e pessoal. Digamos que os blogs economizaram algumas etapas e chegaram rapidamente ao ponto a que já chegaram ou aspiram chegar os jornais: o da conversa desenvolta, cujos intervenientes são muito mais actores do que autores, ao serviço do espectáculo integral. Tão próximos estão - jornais e blogs - do mesmo universo cultural e funcional que não é possível fazer a crítica de uns sem fazer a crítica de outros. O que alimenta a maior parte dos blogs não é uma escrita mas uma conversa, como aquela que se pode ter no café com os amigos, e que se esgota numa troca que promove a confusão da esfera pública com a esfera privada.
Bastante representativo é um dos blogs mais citados e considerado geralmente como um modelo: o «Abrupto» (www.abrupto.blogspot.com), de José Pacheco Pereira. As posições críticas de J.P.P. em relação aos jornais são bem conhecidas. No entanto, ele esbarra geralmente no facto de o seu estatuto e prestígio se alimentarem exactamente do sistema mediático que critica - um sistema que vive da lógica do vedetismo, da omnipresença e da usurpação. Aquilo que Pacheco Pereira representa no território dominante dos clérigos da opinião é uma criação específica do nosso espaço público, não poderia existir senão em Portugal. À primeira vista, o seu blog parece uma tentativa de «desjornalizar» a sua escrita e de entrar no campo mais afável do discurso cultural e do apontamento pessoal. Mas há algo de mais jornalístico, nos nossos dias, do que estas deambulações sócio-político-culturais, em formato magazinesco, servidas por um político? Não há. E eis, então, Pacheco Pereira convidado a montar o seu espectáculo dentro do programa de variedades que é o «Jornal da Noite», da SIC (como, aliás, todos os outros jornais televisivos), ao mesmo tempo que Marcelo Rebelo de Sousa, o Professor, no canal ao lado, aconselha os quatorze livros que leu durante a semana.
O discurso inócuo do «fait-divers» político-cultural e da conversa de família ou de amigos domina, de modo geral, os blogs. Evidentemente, não se trata de algo que seja estranho aos jornais. Mas a questão é esta: porque é que professores universitários, poetas, escritores, críticos desejam tanto jornalizar-se (no duplo sentido do discurso jornalístico e do discurso diarístico) através da «bavardage», do exibicionismo, da falsa subjectividade opinativa? A excepção a este regime são aqueles blogs que tentam fazer um uso produtivo da especificidade do meio, com a consciência do risco e da experimentação que isso implica, excluindo-se da relação funcional com o mero discurso diarístico e a conversa opinativa. Um exemplo: «Reflexos de Azul Eléctrico» (www.reflexosdeazulelectrico.blogspot.com), da responsabilidade de José Bragança de Miranda.
Não é preciso ter lido Habermas para perceber que a expressão individual e o direito à opinião que alimentam a maior parte dos blogs têm um grande valor decorativo mas não têm nada que ver com uma esfera pública crítica (que, de resto, tem cada vez menos condições, em Portugal, para se constituir). Por isso é que é falaciosa a afirmação de Pacheco Pereira, no seu blog: «O mundo continua lá fora e quanto mais vozes se ouvirem melhor. Eu sou um liberal, acredito na lei dos grandes números, na ‘mão invisível’. Há virtudes na cacofonia, cada voz a menos empobrece.» Esta teoria democrática da expressão individual (que só por equívoco podemos pensar que é de inspiração iluminista) é duplamente falaciosa: 1) porque esquece deliberadamente que o sistema é hipertélico, isto é, vai para além dos seus próprios fins e anula-se na sua finalidade; 2) porque se baseia no princípio imposto pelos «mass media» de que tudo o que eles fazem aparecer é bom e não resta outra tarefa senão a de jornalizar o discurso na cacofonia generalizada. Esquecida fica a responsabilidade de interromper a conversa. Esta lei da submissão ao ruído público - e da dependência visceral que ele cria - não é senão a lógica dos «grandes redutores», dos que não conseguem pensar fora da lógica do jornalismo e da agitação política e cultural."




AUTOR: António Guerreiro
LOCAL: Suplemento Actual, Jornal Expresso
DATA : 4 de Outubro de 2003


Comente, p.f.:

terça-feira, setembro 23, 2003

61. Embora seja preciso fazer balanço para ler "Ciúme", esta longa entrada do Levante, compensará pela forma como o autor discute a questão do sentimento de integração que, virtualmente, a Blogosfera concede aos seus participantes.

Ciúmes
Sinto que ainda não me consegui integrar no universo dos blogues. Tal facto deve-se menos à falta de tempo para actualizar o meu pedacinho de exposição cibernáutica do que a um conjunto de dúvidas e preconceitos que tenho tentado identificar.
Talvez fosse importante perguntar-me pelo grau de justeza da palavra integrar. O que significará aqui, neste espaço (sem espaço?), uma tentativa de integração? Será esta necessária e inevitável?
Não consigo deixar de adoptar um certo cepticismo em relação às novas formas de comunicação que se vão construindo, articulando por aí. Vício filosófico, porventura, incapacidade de lidar com o reino do virtual (o único "real" que existe) que toda a filosofia, temerosa e periclitante, não consegue admitir - porque aí se joga a perda de fundamentos, a dispersão dos rostos e a disseminação dos conceitos. Será isto? Seria isto que o Quim, fora do seu ar e sob outros ventos, face a face, realmente me tentava dizer.
Talvez, mas até aí tudo bem, até aí concedo a minha fraqueza, esta tendência para a posse e a reunião, este medo de me deixar perder no escuro de uma casa sem alicerces. Mas a (minha) filosofia, e aqui começo a discordar, não é nostálgica, é ciumenta. Não pretende recuperar um real que se perdeu nos tentáculos técnico-científicos do cartesianismo (a internet e a blogosfera são alguns desses tentáculos, nascidos do método, da aplicação técnica dos conhecimentos, do conjunto de instalações e aparelhos que surgem encadeados orgânica e "naturalmente" no mundo. É interessante verificar como a certeza científica e a sua aplicação técnica foram capazes de produzir e encadear produtos que destroem os fundamentos dessa certeza e aplicação), quer antes a posse da dispersão para, enfim, a reunir até ao limite do possível. Sabermo-nos tocados pelo limite é afinal o mais difícil (merda, estou cheio de Derrida!).
Nas Meditações sobre Filosofia Primeira Descartes procurava, entre outras coisas, verificar a concordância entre as imagens que o homem possui no seu interior e a realidade que está lá fora, no exterior. Com brilhantes artifícios o filósofo alcança o seu objectivo e acerca-se da tão afamada certeza cartesiana. Esta clássica questão da filosofia do conhecimento, que Descartes colocou sob um novo prisma, enraizou-se de uma forma tão profunda na nossa cultura que é hoje difícil deixarmos de falar numa realidade exterior. Aparentemente, ela existe: o som que ouço corresponde ao carro que passa lá fora, fecho os olhos e tenho a certeza de um monitor com a página do blogger à minha frente, a televisão dá-nos constantemente a distância do mundo que existe (e daqui de abrem as fobias da manipulação televisiva). Sempre lá fora, no exterior de nós. Mas eis que, na própria filosofia e nos mais diversos campos da cultura ocidental (aquela que mais se preocupa com estas questões de concordância, já que outras culturas pura e simplesmente vivem as coisas...) as rupturas começam a acontecer. E se os alicerces da nossa casa estivessem assentes na subjectividade e na insegurança? E se tudo não passasse de uma ilusão? A pouco a pouco vemos que aquilo que nos rodeia não passa de uma complexa construção, móvel, sem um ponto fixo; um “pós-moderno” reino do virtual - expressão que odeio usar mas que, neste caso específico, parece preencher o espaço aberto pela ideia.
Mas como relacionar isto com o meu problema de integração?
Nem tudo é virtual e volátil neste reino. Aparentemente a integração deveria ser fácil, sem barreiras. Os blogues são das formas de expressão mais democráticas e livres do planeta. Só deveriam ser necessários uma forma de acesso à internet e algo para escrever. O resto seriam construções de teóricos. No entanto, a verdade é que as construções são próprias dos sistemas ditos virtuais e sem centro real. E estas construções são aglutinadoras e têm tendência a basear-se em centros de reunião e distribuição. Não sei se é isto que está a acontecer com a blogosfera, mas acho que não podemos negar o poder das relações no seu interior, pois só assim consigo perceber as minhas reticências. Se a blogosfera não é absolutamente virtual e aberta, tal não se deve ao facto de sabermos existir alguém por detrás dos posts (e dessa forma sentirmos um elemento real), mas à simples constatação de que há laços reais, na sua maioria involuntários e inconscientes: ideológicos, regionais, profissionais, temáticos. Não me quero integrar, quero des-integrar, pois é aí, na nudez dos laços, que está o corpo impuro desta forma de comunicação. E eu adoro o desafio de dissecar corpos pecadores, mesmo quando estou errado e acabo por esquartejar anjos.
Não sou nostálgico, não quero o real, quero os laços e as relações que parecem flutuar no ar.
Ao escrevermos estamos já a reunir, a querer a posse, a evitar a fuga. Escrever: o ciúme.

Autor: NFS
Local: Levante
Data: 18 de Setembro de 2003
Comente, p.f.:
60. Mais um metablogue trazido por Ferran Moreno Lanza, de un que passava, desta vez recolhido em Desde mi ventana, uma entrada em que a autora, a partir de um problema no seu template, reflexiona sobre a sua relação com o seu blogue:

Cuando me cargué la plantilla el otro día, me di cuenta de lo importante que se ha convertido esta historia del blog desde aquel día de marzo en que me decidí a escribirlo, espoleada por el ejemplo de Zoldado, el que a veces escribe cartas y Bernardo, el amnésico. Esas fueron las primeras bitácoras que leí después de ver un reportaje sobre el tema en el suplemento La Luna, de El Mundo, y me pareció una idea tan buena que me lancé sin saber muy bien qué iba a contar, ni cómo, ni hasta dónde podía llegar. Cuando han pasado cinco meses desde aquello, reconozco que el rito diario de contar algo es uno de los momentos más gratificantes del día, igual que dar un paseo por las bitácoras amigas, o lanzarme a pescar alguna nueva que merezca en el torbellino siempre en aumento de las debutantes.

¿Y por qué este gustillo por escribir, cuando llevaba años haciendo un diario? Pues sencillamente porque ahora sé que alguien me escucha. Esta ventana no encontró su auténtico sentido hasta el momento en que puse el sistema de comentarios. Ese flujo de ida y vuelta, ese saberse oído, y disfrutado, ese mirar hacia fuera y dejar que los demás también fisguen lo que hay dentro... caray, es de lo mejorcito que existe. Se descubre tanto y tan bueno, que de otro modo, nunca llegaría hasta nosotros... Gente que merece la pena, algunas personas que, poquito a poco, están terminando por convertirse en amigos, y de los de veras. Una vía de doble sentido en la que, sí, puedes encontrarte a kamikazes indeseables, cretinos absolutos y auténticos pirados, pero también descubrir a gente con sentimientos tan auténticos que a veces no puedes evitar el escalofrío. Gente con la que sufres cuando ellos lo hacen, con la que te alegras cuando las cosas les van bien, con la que esperas mordiéndote las uñas cuando andan pendientes de una respuesta importante para sus vidas... Gente que parece que te había estado esperando, porque estaba ahí, ya no lo dudas, para terminar encontrándose contigo...

¡Vaya parrafada “metablogística”! Pero tengo un atenuante: el trauma del template destrozado me ha hecho pensar mucho. (.../...)

Autor:Teresa
Local: Desde mi Ventana
Data: 5 de Setembro de 2003

Comente, p.f.:

segunda-feira, setembro 22, 2003

59. Através de Ferran Moreno Lanza, de un que passava, que assim se estreia como colaborador do Metablogue, chega-nos o primeiro metablogue em lingua castelhana, Bitácoras (um dos termos utilizados para designar os blogues na blogosfera espanhola), recolhido no Blogue Megapixel.

Bitácoras
La primera vez que conocí el término weblog se remonta al 28 de diciembre de 2002... Reconozco que bastante tarde para lo enterado que estaba el mundo de esta nueva forma de comunicarnos, pero en fin, ese día me llegó a mi buzón de correos una historia muy graciosa sobre "la navidad en Venezuela" y pregunté a quien me lo había enviado, la fuente. Esto fue lo que recibí:

"la encontré en una de esas páginas que llaman weblogs, son algo así como diarios personales y llegué a ella por pura serendipitividad."

Lo asimilé como eso: una sencilla información... Al pasar el tiempo, fui consultando más y más diarios personales, preguntándome que ganaría la gente escribiendo.
No existe mayor censura que la autoimpuesta, una bitácora tan solo se resume en una experiencia donde puedes contribuir a que otros internautas aprendan sobre algo que te apasiona, conocer distintos puntos de vista, técnicas que desconocías; en otras palabras, estar en contacto con gente que te visita desde lugares muy lejanos.

¿serán para siempre? Están de moda, y eso no se discute. Google acaba de adquirir el mayor proveedor de bitácoras en la red. Dentro de algunos meses, todos los grandes portales apostarán por este servicio, tal y como ha ocurrido con cuentas de correo, álbumes de fotos o directorios telefónicos.

Y a ti: ¿qué te motivó a abrir tu bitácora? (si la tienes claro está) Me mantuve escéptica a la idea de tener una por cuestiones de tiempo (y no es precisamente que ahora tenga demasiado). También porque necesitaba buscar un tema. Cuando las acciones las hacemos porque están de moda, no tardaremos en abandonarlas...

No creo ser parte del fenómeno de los weblogs, a titulo personal, considero que postear es una forma de exhibicionismo o por el contrario, simples deseos de compartir lo que sabes. Aunque es totalmente opuesto lo que acabo de describir, yo me apunto por creer que estoy aquí, porque quizás haya un estudiante perdido en la web preguntando como diablos se divide una red, o algo similar (deduzco que son intenciones proteccionistas, para que nadie se enfrente a la frustración que supone no encontrar lo que busca)... Me motiva pensar que soy útil, pero no para contar mis dolencias, o mis sentimientos, para eso, será mejor que dejemos el ordenador a un lado. (.../...)

Autor: Mafer
Local: Megapixel
Data:14 de Agosto de 2003

Comente, p.f.:

quarta-feira, setembro 03, 2003

58. No Cruzes Canhoto foi publicada uma nota sobre a contra-blogomania: a moda de ser contra os blogues. O texto intitula-se «Enxovalhanço Merecido?».

Depois da moda dos blogues, seguiu-se inevitavelmente a moda de ser contra os blogues (crédito ao Pedro Rolo Duarte por ser o primeiro). Esta tendência diverte-me e parece-me natural. Vindo principalmente de figuras institucionais, isto é, instaladas confortavelmente no sistema e sem vontade de mudar, estas críticas parecem-me muito bom sinal.
No entanto, nunca se devem afastar as críticas de ânimo leve pois contêm sempre uns pozinhos de verdade (do mesmo modo que nunca devem ser encaradas de modo bíblico).
Os blogues podem ser apenas vistos como uma linha aberta do bitaite, um confessionário público ou uma tertúlia entre amigos e não há nada de mal nisso nem quer dizer que estes blogues sejam maus. Há blogues óptimos a mandar bocas, blogues excelentes a abordar pequenas histórias do quotidiano pessoal e blogues interessantes a conversar com outros blogues.
Mas reduzir os blogues a isto é também condená-los ao efémero e ao grupal.
Os blogues podem ser também um excelente suporte para experiências literárias que à partida os editores nunca publicariam (1, 2, 3, 4) e, o ponto que mais me interessa, podem ser uma nova forma de media.
Fareed Zakaria, da Newsweek, fez a seguinte observação a propósito:

No mundo do jornalismo, a página web pessoal ("blog") foi saudada como o carrasco dos media tradicionais. No entanto tornou-se algo de muito diferente. Longe de substituir jornais e revistas, os melhores blogues -- e os melhores são muito bons -- tornaram-se guias dos media, apontando fontes invulgares e comentando notícias conhecidas. Tornaram-se os novos mediadores para o público informado. E, embora os criadores dos blogues se vejam como democratas radicais, são na realidade uma nova elite de Tocqueville.

Num mundo em que os media estão cada vez mais murdochizados (em Portugal, PTzados), isto é concentrados nas mãos do governo ou de dois ou três ricaços, com todo o défice de liberdade de expressão e ameaça democrática que isso implica, os blogues podem ser uma fonte excepcional de cruzamento e concentração de informação, de exploração de factos menos conhecidos e refutação de notícias dúbias. Em Portugal há, infelizmente, poucos sites deste género, há o Valete Fratres (de direita), os blogues do Paulo Gorjão e mais uns poucos. A maioria são americanos, como o Instapundit (de direita), o Indymedia (de esquerda), o Slashdot (informática), o Newsfilter (bizarro) e muitos outros. São estes dois géneros que tornam os blogues importantes e a ter em conta no futuro. A importância dos blogues notou-se no caso de Raed e agora no caso dos blogues iranianos. Por muitos artigos de jornal que se escrevam a maldizê-los. J

P.S. - As críticas à escrita ou superficialidades dos blogues têm o mesmo valor que as críticas à boçalidade nos telejornais e querem dizer apenas isto: que são medias democratizados e acessíveis a todos e não dão apenas voz a alguns "esclarecidos". O resto são questões socioculturais.

Autor: Os Canhotos
Local: Blogue - Cruzes Canhoto
Data: 2 de Setembro de 2003
Comente, p.f.:

terça-feira, setembro 02, 2003

57. Verne Kopytoff, do San Francisco Chronicle, debruçou-se sobre o fenómeno de «mainstreamização» dos blogues num artigo intitulado «Internet giants catch on to blogs: Major portals provide services for online journals».

Blogs, online diaries kept by people who want to share their thoughts, peeves and lives with others, are an underground phenomenon. Right?

It's a niche world of small Web sites that most people outside the blogging community have no idea exists. Right?

Wrong. Blogging is becoming mainstream.

America Online, the Internet behemoth, began offering blogging to its users in August. At the same time, Yahoo started experimenting with blogs on its Korean Web site and is believed to be considering expanding the service elsewhere in its vast network.

Google and Lycos began offering blogging earlier this year.

"It definitely seems like blogging is losing its underground image," said Matthew Haughey, co- author of the book "We Blog: Publishing Online with Weblogs" and co-founder of Blogroots, a Web site that chronicles blogging news.

"I'm hopeful that it's a good thing that every Tom, Dick and Harry has a blog. "

Analysts say that the big Web portals are trying to capitalize on the growing popularity of blogs, journals that are frequently updated with everything from personal musings to art, poems and photography. Analysts agree that hundreds of thousands if not millions of people have created such Web pages within the past few years.

Reasons to keep blogs vary, but most bloggers say they are simply a way to express themselves, connect with others and work with software.

"I use it as a sociological experiment to see what kinds of things I post will cause people to comment," said Peter Steinauer, a software engineer from San Francisco who keeps the blog, www.swimfinssf.com.

Steinauer's blog touches on everything from trying to get a deck built for his home (none of the contractors he left messages with returned calls) to gay politics (he supports same-sex marriage) to details about his latest dinner (whiskey flank steak, green beans and au gratin potatoes). He said that up to 100 people visit his Web site every day.

The blogging community is still relatively small. Only 2 percent of online households visit a blog site once a week or more, according to a survey released last month by Forrester Research, a market research firm.

In fact, a big portion of the respondents, 79 percent, had never even heard of blogging before the survey.

For the big Web portals, offering blogging software and pages is a way to attract and keep users. The direct financial benefits, however, are limited, analysts say.

"It's a lot of hullabaloo over not a lot of value," said Chris Charron, an analyst for Forrester Research, a market research firm. "That's not to say that blogs don't add value to the people who use them."

The portals have little choice but to offer blogs for free. Charging is difficult because free blogging software is so widely available elsewhere on the Internet.

Advertising is one way to make money. In fact, it appears on blogs created using the software of certain companies, but big advertisers aren't generally interested in blogs, Charron said.

"The quality of these blogs is incredibly variable," Charron said. "It's just not likely to generate a lot of value for an advertiser."

Rick Robinson, vice president for community products at America Online, said his new company's blogging feature, AOL Journals, has about 30,000 registered users so far. It filled a gap in what the Web service offers for personal publishing, he said.

There was no easy way for users to create a Web site on AOL that they could update regularly, Robinson said. At the same time, his company was monitoring the growing popularity of blogging.

What AOL created is a service that it bills as having many uses. Members can create a journal, blog, online column or travelogue, then supplement them with photos and picture albums alongside the text.

"We're trying to be a little more leading edge," Robinson said.

Robinson said AOL realized that its leap into blogging might anger the blogging community, known as an independently minded group. To avoid conflicts, his firm met with many small blog developers and users during the past year.

"We wanted to make sure they knew we were coming into the community but not taking it over," Robinson said.

Google, the popular Internet search engine in Mountain View, got into blogging by buying Pyra Labs, owner of Blogger.com. The value of the acquisition, made in February, was not disclosed.

Google has modestly integrated Blogger.com into its operations. For example, users can place a link to a blog of their choice through the Google tool bar. Google also places ads on blogs created through Blogger.com.

"I think that blogging will be much, much bigger than it is," said Evan Williams, a program manager for Pyra Labs and a co-founder of Blogger.com. "Maybe not everyone in the world will blog, but I think it will become a natural part of the Internet."

Haughey, the author, said that there are two sides to the growth in blogging. It has always been a venue for discussion where bloggers post and then solicit comment from readers.

"There's always a chance that you have wild new perspectives," Haughey said.

He added, "Some of the old bloggers have complained that as the numbers go up, it's hard to find useful blogs."

Asked whether bloggers will have an aversion to using the big portals, Haughey said not necessarily. He said it depends on how good services are, but he added that old-school bloggers value registering their own, catchy Internet domains.

"I think that most old bloggers want myblog.com, not aol.blogs/username."

Autor: Verne Kopytoff
Local: Imprensa - San Francisco Chronicle
Data: 1 de Setembro de 2003
Comente, p.f.:
56. Numa crónica que titulou de Blogue-Notas, publicada hoje no Diário de Notícias, o historiador José Medeiros Ferreira dedica alguma atenção ao mundo dos blogues.

A bloguemania está a difundir-se rapidamente. É, por enquanto, um exercício particular de quem gosta de ter opiniões abundantes e imediatas e revela uma acentuada necessidade de comunicar. A maior parte dos blogues que conheço aparenta-se ao género diarístico da antiga literatura. Um parente dissemelhante e de outra geração. Em todo o caso é um descendente_ À primeira vista é um descendente, em língua portuguesa, de um Miguel Torga menos esculpido em granito lexical, de um Vergílio Ferreira mais mundano na sua conta-corrente, de um Fernando Aires angustiado de metafísica, de um Cristóvão de Aguiar bloguista avant la lettre com a sua relação de bordo existencial. Até me lembrei de Teixeira de Pascoaes e de Raul Brandão, mas os blogues dos nossos cibernautas pouco tratam de sentimentos. Estão mais virados para a descoberta da luta política por conta própria. Porque será? É claro que os blogues não são mais nem menos do que os sites precocemente envelhecidos pela necessidade de criar modas internéticas. Ainda há 50 anos se viravam os fatos do avesso, dando-lhes um retomado colorido, caso o tecido valesse a pena. O site é mais institucional, o blogue é mais individual _ ambos unidos por uma orgia de endereços electrónicos_ Deste modo, e antes que seja tarde, aproveito esta minha curiosidade de férias, para apresentar um modelo de blogue-notas:

Quinta-feira, dia 28: João Cravinho propõe António Guterres como cabeça-de-lista para as europeias. Não é a primeira vez que o faz, mas em Agosto o caso foi mais falado do que nos blogues que reservam uma entrada para Comentários(o). Acho uma boa ideia, embora não faltem excelentes candidatos a cabeças-de- lista para o Parlamento Europeu em quase todos os partidos do sistema, e até fora dele. Depois dos jogadores de futebol deve ser mesmo a melhor especialidade portuguesa. Por isso não me preocupo muito com o assunto. Alguém há-de aparecer. Prevejo um bom resultado do PS e a eleição de pelo menos um deputado do Bloco de Esquerda. Mesmo que o PSD perca essas eleições, com certeza que Durão Barroso não se demitirá. Vou guardar este blogue até Junho do próximo ano para o citar. Posted by José.

Sexta-feira, dia 29: Chuva. Como disse Teixeira de Pascoaes, o Outono em Portugal começa em Agosto. Esta chuva acaba com os incêndios, dirão os patriotas do clima.

Leio uns documentos da Casa Pia n'O Independente. Mas se todos os portugueses fossem avaliados, na indevida altura, por pedo-psiquiatras, quem garantiria o estado da nação no futuro?! E quantos blogues não seriam precisos para revelar as pulsões, as tendências, e até os actos de tanta gente feliz com lágrimas? Freud elaborou uma teoria geral. Em Portugal, pelo menos desde Pina Manique, elaboram-se fichas pessoais. Posted by Heterónimo Ferreira.

Sábado, dia 30: José Sócrates, no Expresso, afirma que António Guterres é o melhor candidato às eleições presidenciais. Pasmo com este afã de candidatar o presidente da Internacional Socialista a todos os cargos imagináveis. Tanto mais que agora ele vai em missão social da ONU junto de Lula da Silva, conforme também me ensina o mesmo semanário. Prevejo que António Guterres aproveitará a primeira ocasião para repetir estar retirado da política doméstica activa. Ainda é muito cedo para «o natural», como notou o E. P. C. A propósito será que o E. P. C. tem um blogue? Posted by Medeiros.

É isso. Um dia que deixe de ter a coluna no DN vou criar um blogue-notas!

Autor: José Medeiros Ferreira
Local: Imprensa - Diário de Notícias
Data: 2 de Setembro de 2003
Comente, p.f.:
55. Francisco José Viegas (Aviz) dedica mais algumas linhas à análise do mundo dos blogues.

O pior que poderia acontecer aos blogs, além de elaborarmos códigos de conduta, seria determo-nos mais tempo do que o necessário nas razões que levam alguns bloggers a «encerrarem actividade». É provável que existam blogs que não resistam ao Verão ou que só existam porque há Verão, e disponibilidade, e vontade de falar. Isso dura enquanto dura. A natureza do blog é profundamente individualista — mesmo quando abriga vários individualismos. Acabam como começam, temos pena ou não, mas sabemos que ressuscitarão por aí, se ressuscitarem. O impulso que leva alguns bloggers a iniciarem actividade é precisamente o mesmo que os leva a «encerrar actividade». Alguns esgotam os seus objectivos. Alguns, outros, cansaram-se, e estão no seu direito. Outros mudam de rosto e não nos apercebemos (sim, sim). Têm uma marca de exibicionismo e de intimidade, de clarividência e de lugar-comum, de banalidade e de excepção. Tudo isso é natural. Que o Pedro, primeiro, tenha querido acabar com o Guerra e Pás e que o outro Pedro quisesse, depois, interromper o Flor de Obsessão é natural — porque as razões até estão lá inscritas (talvez mais no Guerra e Pás). Mas nada disso é dramático. Tudo isso estava escrito e inscrito, como disse.
Prevejo, de facto, que boa parte dos blogs acabem por estes dias, quando acabar o Verão, quando a vida ganhar «outro sentido» ou for necessário «regressar à vidinha». Um blog não é «um meio de comunicação social». O seu carácter flutuante diz-nos que «viver sempre também cansa», que há coisas que nascem da imensa harmonia do mundo, e que há outras que vêm do fundo da tempestade. Não interessa. Temos de ser tolerantes para com a própria natureza do blog, que é essa: existe enquanto existe.
Não sei quando acabará o Aviz. Vou escrevendo, tenho a noção de que escrever num blog é uma coisa precária (não tenho contador, não quero, não caio em tentação, não — claramente, não — acho que um blog tenha «audiência», talvez tirando o Abrupto), que somos voyeurs e objectos de voyeurismo em simultâneo. Mas há coisas que se dizem através dos blogs e há coisas que não digo através dos blogs. O que escrevo noutros lados não me impede de escrever o que escrevo no Aviz, mas não penso muito nisso. Não roubo tempo «ao outro lado» para escrever neste; nem roubo tempo «a este lado» para escrever no outro. Cada coisa — cada suporte — tem a sua natureza, mesmo que não a saiba identificar. No Aviz escrevo sobre a noite, sobre a insónia, sobre a minha fé e as minhas saudades, sobre política, sobre o que quiser, sem me importar com a opinião de Luís Delgado. Não tenho a ideia de uma «utilidade» dos textos; acho que há textos dos blogs que têm dignidade suficiente para serem publicadas em livro, numa revista, numa página de jornal; e há colunas de jornal que nunca deixaria que se publicassem no meu blog, porque nenhum preço paga aquela mediocridade, aqueles erros de gramática ou aquela falta de ideias. O mundo é um mistério, não é?
Acho que é por isso mesmo (por o mundo ser um mistério) que tenho um blog. Discuto com quem quero (e só com quem quero), discuto até onde quero (e só até onde quero), no registo mais «disponível» por que se possa optar. Provavelmente por ser assinado e se tratar de um blog público não é tão confessional como seria um «diário pessoal». Mas mesmo o carácter confessional da escrita, como se diz no Norte, «vai da pessoa». Muitas vezes, o Aviz é um texto único contra a noite, contra a insónia, contra os mosquitos que vêm com o Verão. E vai com a música que estou a ouvir.
Na generalidade, inclusive, penso que há blogs muito interessantes com que aprendi bastante — sobre literatura, sobre filosofia, sobre política. Com outros, irrito-me em silêncio porque prolongam aqui a ignorância que se detecta nas «conversas de circunstância», reproduzindo erros e omissões da imprensa generalista ou da mais alinhada. Mas por isso mesmo defendo a inexistência de qualquer código de conduta senão aquele que deriva do bom- senso — que é uma coisa muito pessoal. Desconfio daqueles que vêm educar as massas e arrebanhar multidões (acho o proselitismo muito discutível). Desconfio ainda mais daqueles que se vêem investidos da missão de «acordar consciências» para pôr toda a gente a discutir e a «debater». Aqui deixamos o que queremos e só somos julgados por isso. Acho bem que existam blogs que citem, citem, citem, que exponham as suas paixões e que escondam os seus amores. Tudo se nota, quando é escrito. Escrever profundamente é mostrar os lugares da paixão (a paixão, a divergência, o ressentimento, o amor, a delicadeza, a tranquilidade), mas só quando se quer. Muitas vezes é só insónia. Só perguntas: e a noite, o que é? — por exemplo.
Fazer de um blog mais do que isso já me parece extravagância.

Autor: Francisco José Viegas
Local: Blogue - Aviz
Data: 28 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
54. Patrícia (Mau Feitio) tece alguns comentários sobre o mundo dos blogues, debruçando-se sobre o que considera ser o pedantismo e o pseudo-intelectualismo de alguns blogues.

Fiz uma viagem mais longa do que o habitual pelos blogs portugueses. Com mais paragens, e também estas mais longas que o costume. Não me apetece procurar adjectivos para descrever o que li. Mas sem qualquer esforço vêm-me à cabeça dois substantivos abstractos: pedantismo e pseudo-intelectualismo.
Muita filosofia de trazer por casa, muito humor «eu sou tão culto que sei fazer piadas com este tema», muitas citações (em várias línguas, porque «claro que sabe francês, se não sabe saia do meu blog, sua amostra da cultura popular!»). E muitos nomes de peso largados aqui e ali, como quem não quer a coisa. Se eu agora disser «Proust» este texto fica logo com outro ar. «Kafka». E já agora, «existencialismo de Sartre e Kierkegaard». Mais uma ou duas e o Mau Feitio já pode constar daquela elite de links que esses blogs têm em comum (devem ser uns cem, que se linkam mutuamente).
E depois quando querem mostrar ao «povo» que no fundo também são pessoas comuns... lá vem a descrição de um dia bem passado, do tipo «entretive-me com a leitura comparada de Oscar Wilde e Bernard Shaw, com a apreciação profunda de uma peça de jazz contemporâneo, um passeio pelos antiquários do Príncipe Real e um bife com ovo a cavalo no Martinho da Arcada, temperado com os fantasmas das antigas tertúlias cujos espíritos em mim se perpetuam.»

Autor: Patrícia
Local: Blogue - Mau Feitio
Data: 19 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

sexta-feira, agosto 22, 2003

53. Daniel Olivença (L'Homme qui a Mordu le Chien) comenta, numa pequena nota, a questão da relação entre os blogues e a publicação.

Antes dos blogs, as pessoas que queriam ter algo seu lido tinham de passar pelo apertado crivo da publicação. Isso poupava os autores de muitas vergonhas a que agora são expostos.

Autor: Daniel Olivença
Local: Blogue - L'Homme qui a Mordu le Chien
Data: 21 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
52. Uma brevíssima questão de R. (aDeus):

Será o blog, por entre as formas da comunicação, o graffiti dos intelectuais?

Autor: R.
Local: Blogue - aDeus
Data: 21 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
51. O autor chamou-lhe Nome. Trata-se de um breve texto de Pedro Galvão (O Céptico) onde se fala da questão do anonimato no mundo dos blogues e das suas implicações.

A partir de agora, O Céptico surgirá devidamente assinado. Nunca procurei esconder-me, e este país é tão pequeno que, embora eu nem sequer seja conhecido, quem se deu ao trabalho de investigar o assunto descobriu rapidamente quem escrevia este blogue.

A blogosfera no seu pior é isto: escondendo-se cobardemente no anonimato, há gentinha muito doente que opta pelo insulto mais torpe e mesquinho que se pode conceber. (Para quando um Psico[b]logue?) Eu nunca estive perto de insultar alguém, mas, como já me referi aqui a várias pessoas em termos depreciativos, parece-me justo que o faça dando a conhecer o meu nome.

É claro que isto vai estragar um bocado a brincadeira. Dado que a partir de agora O Céptico = PG, deixarei de falar de coisas que na verdade não me aconteceram. (Mas devo dizer, para grande desilusão de alguns, que aquela do teste do Heidegger aconteceu-me mesmo.) Isto, no entanto, não é o pior. O pior é o risco de eu começar a levar isto demasiado a sério. Já levo muitas coisas a sério: tese, manuais, traduções, recensões, revista, dicionários, artigos, aulas e o diabo a sete. Este blogue surgiu como uma maneira de descomprimir de tudo isto com uns comentários informais, umas tiradas de humor duvidoso, umas incursões completamente despretensiosas em território filosófico. Irá continuar assim?

Autor: Pedro Galvão
Local: Blogue - O Céptico
Data: 22 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
51. Num texto recente, a que foi dado o título Blogues, Fernando M. Cameira Fonseca (Blog do Veneno Eficaz) produz algumas considerações sobre a blogosfera.

Tanta gente com tanto para dizer! Porque é difícil a atitude "bloguiana" (neologismo?) numa conversa directa, num encontro de amigos? Parece que hoje existem dois níveis de comunicação principais:
- cara a cara - para as trivialidades, conversas de circunstância, informações práticas, passar o tempo;
- internet - para as considerações mais profundas e pessoais.
Mas há aqui qualquer coisa que não está 100% bem. No cara a cara, num encontro de amigos, sabemos para quem falamos, temos resposta, interacção. Na net, nomeadamente nos ditos blogues, não fazemos ideia se alguém e quem nos lê, se estamos a falar sozinhos; e no entanto é aqui que nos aprofundamos. A net é uma defesa, um muro atrás do qual ousamos e pretendemos ter coisas interessantes a dizer sem necessidade de credenciais? A net satisfaz o nosso desejo obscuro de ser uma voz com auditório universal em vez de se ficar pelo grupo de conhecidos? Dá-nos a ilusão de um espaço nas vozes que se escutam? A net é o nosso cantinho seguro para sermos o escritor que sempre sonhámos ser?
Não serei eu quem vai desvender este mistério. Fica só a preocupação.

Autor: Fernando M. Cameira Fonseca
Local: Blogue - Blog do Veneno Eficaz
Data: 18 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

quarta-feira, agosto 20, 2003

50. Nuno Dempster (Palavras & Letras) tentou, em duas notas recentes, produzir uma tipificação de alguns modelos de blogues (aqui, aqui e aqui). Nessas notas distingue três modelos frequentes de blogues: os «magnifierblogs», os «bunkerblogs» e os «obviousblogs».

Os Magnifierblogs. Também há blogues dedicados a verem, à lupa, os micro-sucessos, sobretudo políticos, do nosso inglório e pequeníssimo quotidiano.

Os Bunkerblogs. Há blogues que se dedicam à guerra das polémicas, e se me pelo por uma polémica (embora fuja delas como o diabo da cruz), já dificilmente as suporto como um modo de estar. Esses blogues parecem bunkers a trocar entre si rajadas de balas tracejantes que são as suas palavras.

Os Obviousblogs. São aqueles em que o conselheiro Acácio escreve. Também os visito, claro, quando busco gente menos óbvia. E às vezes até volto a eles. Porque, afinal, são parte da "nossa" Blogolândia. E há-os com muita fama e maior prestígio, cuidadosamente cultivados ao espelho. "De primeira ordem", ouço o conselheiro. A estes visito-os de propósito.

Autor: Nuno Dempster
Local: Blogue - Palavras & Letras
Data: 19/ 20 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
49. POS (Cerco do Porto), produziu algumas considerações sobre a blogosfera num texto que titulou Early, late... que é que isso interessa?....

Já disse aqui que os blogs são cíclicos. Cada um baralha e volta a dar, conforme os objectivos que tenha. Objectivos, evidentemente. Ter objectivos é ter um propósito, bem definido ou difuso, escondido em palavras soltas, aqui postas quando está mais fresco e o vento murmulha nas copas das árvores, ou quando está mais quente e o gelo tilinta nos copos de gin. Há sempre um propósito qualquer. Pode ser a criação de um novo espaço para fazer política, um espaço de liberdade meticulosamente calculada (falsa liberdade, pois). Pode ser a busca de uma alternativa literária, um banco de ensaios. Pode ser a criação de uma pequena legião de seguidores, a simples marcação de presença num novo meio, a rejeição do esquecimento enquanto possibilidade a que nos sujeitamos. Pode ser isso tudo. Ou outro tudo qualquer. Um blog diz, na essência, muito de quem o faz. Não nos propósitos enunciados. Na essência, que nunca está lá claramente traçada. Na essência respeitada desde que ignorada. Quando um blog é de alguém que dá a cara, então, a coisa obedece muito mais a um objectivo. Ninguém escreve rigorosamente o que lhe passa pela cabeça, pois todas as palavras são medidas em função do propósito que se tem. Ou faz-se como o Pipi, e fica-se, enquanto Pipi, amarrado a uma linha criativa de ilusória liberdade mas essencialmente limitativa e secreta para sempre. Os textos sobre blogs raramente são inocentes (Homessa! Então este não é um texto sobre blogs?...). Nada inocente, por exemplo, é o fingimento de desinteresse, ou o fingimento de uma atitude acima da mesquinhez que traça a rota terrena do cidadão comum. Causa-me náuseas, NÁUSEAS, ver que alguém que equaciona publicar isto em livro, valendo-se dos privilégios de identidade, escreve no seu blog a incoerência que se segue (porque ele próprio tudo faz para ser notado e para ser citado, para ser a referência entre as referências, aparentemente indiferente, superiormente alheado...): “Tenho também muito pouca curiosidade em saber de quem são os blogues, atitude que não é partilhada por muitos, para quem a identidade do seu autor se sobrepõe a tudo e procuram afanosamente saber quem está por detrás de um pseudónimo.” E outros seguem caminhos parecidos, não iguais (talvez haja diferenças entre boas e más pessoas) mas semelhantes na essência da promoção pessoal, da legítima expectativa dos autores, gritar à boca de uma caverna e ouvir a maior quantidade possível de ecos. É legítimo, pois, mas não deve ser escamoteado para que não se caia no ridículo. Convençamo-nos, porém, de algo muito importante: um autor não é, necessariamente, a pessoa que lhe dá forma; um autor pode significar uma enorme esperança na espécie humana, mas quando temos a oportunidade de contactar a pessoa de pele e osso concluímos que, afinal, a pessoa pode ser desinteressada, sobranceira, pode ignorar instituições que devia respeitar por isto ou por aquilo, pode confundir coisas com pessoas, fazer birra, trepar para um pedestal de areia molhada e pensar que está na firmeza de um bloco de pedra. A pessoa é, afinal, uma pessoa. Podemos ou não gostar dela, mas temos de estar preparados para a eventualidade de o autor que admiramos estar longe da pessoa que idealizamos.

Autor: POS
Local: Blogue - Cerco do Porto
Data: 20 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
48. JMF (Terras do Nunca), num pequeno apontamento intitulado Eu e o meu blogue, escreveu agora sobre a sua relação com o seu blogue e o mundo dos blogues.

Todos os dias visito o meu blogue. Se escrevo à noite, vou lá de manhã. Se escrevo de manhã, vou lá à tarde.
Penso que não será por narcisismo. Bom, pelo menos, não será por narcisismo em excesso. Também não é para inchar os famosos contadores. Afinal de contas, só lá vou duas ou três vezes por dia.
Vou lá para caçar uma outra gralha e também para me assegurar de que ainda concordo com o que escrevi. Até agora, não tenho tido razões de queixa.
Vou lá (mas que digo eu? Venho cá, assim é que é...) por causa de um pesadelo secreto que me persegue. Escrevemos num espaço que não nos pertence e que, ao contrário do que alguns pensam, tem dono. No caso, é a Blogger, uma empresa detida pelo Google.
Ora o meu pesadelo é que esse senhores não gostem do que escrevo, da minha cara ou da falta dela, e entrem por aqui dentro, desarrumem a casa, deitem a casa abaixo... Um pesadelo que não me larga.

Autor: JMF
Local: Blogue - Terras do Nunca
Data: 20 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
47. O Nuno do Noctívago publicou agora uma pequena nota sobre o que julga ser o perfil típico dos bloggers.

Naveguei pelos blogs que aliatoriamente me foram aparecendo. Meia hora, uma hora talvez. E já tenho o perfil da maioria. Mulheres acima dos 30 anos, muitas divorciadas, muitas desesperadas, homens que trabalham no jornalismo ou gostavam de trabalhar, literatos frustrados e adolescentes com problemas existênciais. E pouco mais.

Autor: Nuno
Local: Blogue - Noctívago
Data: 18 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

terça-feira, agosto 19, 2003

46. O Blog de Notas recuperou agora um texto antigo de John Hiler publicado , a 22 de Maio de 2002, na «Microcontent News: The Online Magazine for Weblogs, Webzines, and Personal Publishing». Intitulava-se «Blogosphere: the emerging Media Ecosystem». Entre outras coisas, dizia assim:

Like any ecosystem, the Blogosphere demonstrates all the classic ecological patterns: predators and prey, evolution and emergence, natural selection and adaptation. I've often thought that anthropologists were best equipped to deconstruct the emerging blogging sub-culture, but now I'm convinced I got it wrong: the greater mysteries of the Blogosphere will be unlocked instead by evolutionary biologists.
(...)
Like any ecosystem, the Blogosphere has a life of its own, one that's more than the sum of its weblogs. You can't understand a jungle by studying a single jaguar, and in the same way you can't understand the Blogosphere by studying a single weblog. Surfing the Blogosphere you can see evolutionary forces play out in real time, as weblogs vie for niche status, establish communities of like-minded sites, and jostle for links to their site.


Autor: John Hiler
Local: Microcontent News
Data: 22 de Maio de 2002
Comente, p.f.:

segunda-feira, agosto 18, 2003

45. José Fernando Guimarães(Estudos Baudelaireanos), debruçou-se sobre o mundo dos blogues avançando algumas notas para a compreensão do fenómeno num texto intitulado O que é um Blog?.

Aparentemente, um blog é um exercício narcísico. Mas, se o fosse completamente, publicar também o seria – melhor, seria fundamentalmente um exercício narcísico. O que não é completamente verdade. Donde, um blog não é um exercício narcísico total nem radical.
Também aparentemente, um blog é uma agenda. Uma agenda onde se vai tomando nota de várias coisas, de várias perspectivas, de vários modos de olhar. Numa escrita com o seu quê de fragmentário. Numa escrita com o seu quê de aforismo. Numa escrita com o seu quê de abrir a alma. Mas, se repararmos bem, um blog não abre a alma, abre o corpo. O que não cabe no modelo clássico de escrita fragmentária – de que Benjamin seria o exemplo total e radical. O que não cabe no modelo clássico de diário (tão falado nalguns blogues). Donde, um blog mais do que um diário, é uma agenda: para ler e deitar fora, pelo menos no ano seguinte, se não for no mês ou no dia seguinte.
Por isso, um blog se aproxima tanto da arte contemporânea. Aí interrogou- se e acabou-se por decretar o fim da pintura. Um blog é, de facto, o fim da escrita, a escrita tornada fantasma, sombra, mesmo a sombra de Narciso. Porque um blog é o efémero, tornado efémero – uma sombra, portanto. Porque um blog é um corpo, a escrita feita corpo – como em Duras ou Clarisse Lispector, por exemplo. Porque um blog é a ruptura definitiva com a edição, na sua interpretação clássica. Porque um blog é a pura contingência. Porque um blog é a democratização levada ao limite. Ou seja, um blog é o terror(ismo). O que nos leva a 1789, esse ano zero da história e do início do modernismo. O que nos leva a 1968 e aos textos de Guy Debord. Ou, mais lá para trás, a Baudelaire – ao contingente, ao transitório, ao efémero. Que é o que assina a cena artística de 68 em diante.

Autor: José Fernando Guimarães
Local: Blogue - Estudos Baudelaireanos
Data: 18 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
44. BrainstormZ (Tempestade Cerebral), dedicou algumas linhas ao metabloging.

No que respeita à blogesfera ainda estou na fase de infância mas, pela falta de tempo, já tive de desenvolver um método de consulta de outros blogs. Assim, dou mais atenção aos blogs cujos posts não se desviam de um determinado tema.
Quando selecciono um link do menu de Favorites/Blogs gosto de saber, com antecedência, que tipo de posts vou encontrar. É uma forma de organização a que estamos habituados no nosso dia-a-dia: publicações especializadas e artigos divididos por secções nas publicações generalistas (tanto em formato papel como digital).

Cada blogger, como qualquer ser humano, tem uma opinião sobre inúmeros assuntos. A grande maioria exprime essa variedade de opiniões nos seus blogs o que - caso esteja à procura algo específico - torna a consulta destes um pouco caótica e ineficaz. Mas existem uns poucos bloggers que, pelas suas qualidades literárias, conseguem obter algum “estatuto social” que os diferencia dos restantes. São exemplos José Pacheco Pereira (Abrupto) e Pedro Mexia (Dicionário do Diabo e ex-Coluna Infame).
Uma pequena minoria consegue restringir os seus posts a um só tema - maior eficácia em captar a atenção de leitores com falta de tempo. Um excelente exemplo é o Vítima da Crise, diário de um desempregado (espero, contudo, que ele consiga, brevemente, passar a denominar-se ”diário de um empregado”).

O sucesso da blogesfera portuguesa depende, na minha opinião, das seguintes estratégias:

1. Blogs de referência - como o blogo, blogs em .pt, bloco-notas, posto de escuta, etc - que apresentem links para determinados posts de bloggers segundo critérios idênticos às secções da comunicação social escrita (Política, Sociedade, Economia, Desporto, Humor, etc) - para abranger toda a blogesfera portuguesa serão necessários contribuintes com tempo para navegar e facilidade em “catalogar” posts;

2. Blogs generalistas cujos posts continuem, pela sua qualidade, a apresentar opiniões sobre variados assuntos (e, complementarmente, a fornecerem links a blogs e artigos de interesse) - como o Abrupto, Conversas de Café, País Relativo, Dicionário do Diabo, Jaquinzinhos, O Intermitente, etc;

3. Blogs especializados em determinado tema - como o De Direita, De Esquerda, Blog de Esquerda, Liberdade de Expressão (Política); Vítima da Crise, Venda-se, Direito & Economia (Economia); O Projecto (Arquitectura); gildot, mac (Tecnologia); Terceiro Anel, Bola Verde, Caderneta da Bola (Futebol); Blogue dos Marretas, Desactualizado e Desinteressante, Gato Fedorento, O Meu Pipi (Humor); etc.

Nota final: este blog tenta posicionar-se na terceira estratégia citada: no meu caso Gestão e Marketing - já por si só conceitos que podem ser aplicados a uma grande variedade de assuntos.

Autor: BrainstormZ
Local: Blogue - Tempestade Cerebral
Data: 19 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

domingo, agosto 17, 2003

43. Francisco José Viegas (Aviz), escreveu uma pequena nota - que titulou Blogs - sobre a manutenção de um blogue.

Manter um blog cria exigências. Não é uma descoberta, mas uma espécie de rendição. Muitas vezes, a meio da noite — enquanto aguardo notícias soltas —, aparece uma grande vontade de escrever; de outras, nem tanto. Às vezes, nenhuma vontade. E, depois, uma pergunta: «Quando escreves o que tens mesmo de escrever?» Esta pergunta deixa rasto. Exigências.

Autor: Francisco José Viegas
Local: Blogue - Aviz
Data: 16 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

sábado, agosto 16, 2003

42. Joaquim Amado Lopes, do Diário Digital, dedicou um pequeno espaço aos blogues num artigo intituladoOs blogues e a Assembleia da República.

A primeira vez que ouvi falar dos "blogues" não resisti e fui logo ver. Devo confessar que demorei algum tempo até perceber o que era um "blogue". Afinal, supostamente os "blogues" eram algo moderno, inovador e interessante e o que eu via era simplesmente uma vulgar página web, onde o "bloguista" publica artigos, numa versão simplificada (e extremamente limitada) de um vulgar forum, como aqueles que se encontram em inumeros sites. Em alguns blogues, nem sequer se pode comentar os artigos.

Finalmente percebi. Os "blogues" têem realmente algo de moderno, inovador e interessante: o nome! De resto, são tão inovadores quanto cantar em vez de falar ao telefone. Não são funcionais como espaço de debate. Estão mesmo a anos-luz da Usenet.

Não são funcionais como repositório de informação. Os artigos são publicados sequencialmente, numa única página. Não são funcionais como espaço de notícias. Não têem organização além da cronológica.

Afinal, servem para quê? Bem, servem para os "bloguistas" publicarem os seus pensamentos, de forma mais ou menos regular (supõe-se que diariamente), o que quer dizer que, com honrosas excepções, os "blogues" são especialmente interessantes para os respectivos autores e mais ninguém. Acredito mesmo que a maior parte das visitas à maior parte dos "blogues" são feitas por quem os escreve, com excepção das alturas em que são referidos na comunicação social.

Foi assim sem qualquer surpresa que soube que a AR votou por unanimidade a criação de uma "blogosfera" para os deputados da Nação. É que a AR só vota qualquer coisa por unanimidade quando:

1. É algo inócuo, tal como louvores a falecidos ou a feitos desportivos ou científicos;

2. É no interesse dos deputados, tal como aumento de salários ou regalias;

3. Fica bem na comunicação social mas não dará nenhum resultado, porque nunca chegará a ser regulamentado e todos se esquecerão;

4. Ou quando não percebem o que estão a votar. Ou seja, por ignorância.

Como os deputados são, na sua grande maioria, info-iliterados (ignorantes no que diz respeito à informática) é pouco provável que sejam mais de meia-dúzia os deputados a criar "blogues". Os dois ou três que estariam realmente interessados em criar e manter o seu "blogue" já o terão feito em 2006. Sim, em 2006. É que a decisão é de criar uma "blogosfera" parlamentar para a próxima legislatura. Isto apesar de uma "blogosfera" ser algo tão simples técnicamente que qualquer aprendiz de webmaster a poderia criar em duas ou três semanas.

Os deputados poderiam ter decidido a criação de um espaço de verdadeira informação. Um espaço, no site da AR, com informação sobre cada deputado (incluindo o contacto), as suas iniciativas legislativas, intervenções, votos, viagens, etc. Mas isso não teria um nome tão "cool" quanto "blogue". E, afinal, quem é que estaria interessado em aceder a informação sobre o que os deputados fazem enquanto tal?

Autor: Joaquim Amado Lopes
Local: Jornalismo Digital - Diário Digital
Data: 14 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:

terça-feira, agosto 12, 2003

41. Jill Walker (jill/txt) publicou há algum tempo atrás, no seu blogue, uma definição de 500 palavras do termo «weblog», para ser incluída como uma das inúmeras entradas na postcoming Routledge Encyclopedia of Narrative Theory.

A weblog, also known as a *blog, is a frequently updated website consisting of dated entries arranged in reverse chronological order so that the reader sees the most recent post first. The style is typically personal and informal. Freely available tools on the World Wide Web make it easy for anybody to publish their own weblog, so there is a lot of variety in the quality, content and ambition of weblogs, and a weblog may have anywhere from a handful to tens of thousands of daily readers. Weblogs first appeared in the mid-nineties and became more widely popular as simple and free publishing tools such as Blogger.com became available towards the turn of the century.

Examples of the genre exist on a continuum from online *diaries that relate the writer’s daily activities and experiences to less *confessional weblogs that comment and link to other material, discuss a particular theme or function as soapboxes. In addition to the dominant textual form of weblogs there are experiments with adding sound, images and videos to the genre, resulting in photoblogs, videoblogs and audioblogs.

Each entry in a weblog tends to link to further information. Weblog authors also link to other weblogs that have dealt with similar topics, allowing readers to follow conversations between weblogs by following links between entries on related topics. Readers may start at any point of a weblog, seeing the most recent entry first, or arriving at an older post via a search engine or a link from another site. Once reading a weblog, readers can read in several orders: chronologically, thematically or searching by keywords. Weblogs also generally include a blogroll, which is a list of links to other weblogs the author recommend, and many weblogs allow readers to enter their own comments to individual posts.

Weblogs are serial and cumulative, and readers tend to read small amounts at a time, returning hours, days or weeks later to read entries written since their last visit. This serial or episodic structure is similar to that found in *epistolary novels or *diaries, but unlike these a weblog is open ended, finishing only when the writer tires of writing.

Many weblog entries are shaped as brief, independent narratives. Some weblogs create a larger frame to these micro-narratives by using a consistent rule to constrain their writing. Francis Strand connects his stories of life in Sweden by ending each with a Swedish word and its translation. Other weblogs connect frequent but dissimilar entries by making a larger narrative explicit: The Date Project documents a young man’s search for a girlfriend, Julie Powell narrates her life as she works her way through Julia Child’s cookbook while Flight Risk is about an heiress’s escape from her family.

Further Reading
Anonymous (2002) The Date Project. http://thedateproject.blogspot.com/
Lejeune, Philippe (2000) “Cher écran...” Journal personnel, ordinateur, Internet. Paris: Éditions du Seuil.
Strand, Francis (2003) How to Learn Swedish in 1000 Difficult Lessons. http://francisstrand.blogspot.com/
V., Isabella (2003) She’s a Flight Risk. http://shes.aflightrisk.org
Powell, Julie (2003) The Julie/Julia Project. http://blogs.salon.com/ 0001399/

Autor: Jill Walker
Local: Blogue - jill/txt
Data: 28 de Junho de 2003
Comente, p.f.:
40. Pedro Correia publicou agora um pequeno artigo sobre a blogosfera no Diário de Notícias. Intitula-se Blogo, logo existo.

José Pacheco Pereira deu o mote. Há escassos meses, o eurodeputado do PSD lançou entre nós a moda dos blogues. Uma moda que pegou depressa e bem: muitos outros lhe seguiram o exemplo _ figuras conhecidas ou ilustres anónimos, gente de todas as idades, intelectuais das mais diversas tendências disputam tempo e espaço na Internet com os seus blogues. Adaptando a epistolografia à era da informática e desenterrando o prazer da polémica, que parecia quase adormecido entre nós.

O que é um blogue? No fundo, trata-se de um simples diário pessoal, mas com a particularidade de ser acessível ao universo de utilizadores da Internet. Há blogues de todas as cores e para todos os gostos. Enquanto a esmagadora maioria das colunas de opinião impressas nos jornais é cinzenta, conformista e previsível, os textos que circulam na blogosfera caracterizam-se pelo seu estilo vibrante e polémico. Nenhum tema é evitado nem nenhum ângulo deixa de ser abordado pelos blogonautas, que desencadeiam reacções em série. Sobretudo quando estão em causa questões políticas.

A política é um tema muito em foco nos blogues. Pacheco, que também neste caso deu o pontapé de saída, gosta de discorrer sobre as relações entre políticos e jornalistas, entre uma ou outra bicada ao Governo. «Gostava de saber em quantos sítios vai ser proibido o uso de foguetes», ironizava ontem no seu Abrupto, talvez o mais conhecido de todos os blogues.

Outro assunto quente da nossa vida política que mereceu recentes comentários foi o jantar dos generais contra o ministro da Defesa. «Generais no activo e na reserva fazerem um jantar conspirativo não é um sinal saudável numa democracia estabilizada», opinou Pedro Mexia, autor do blogue Dicionário do Diabo. Um blogue também muito popular é o Gato Fedorento, que tem quatro autores: José Diogo Quintela, Miguel Góis, Ricardo Araújo Pereira e Tiago Dores. Um deles escrevia assim sobre a controversa questão das escutas ao líder socialista: «Ferro Rodrigues devia conseguir ver a vantagem de ter sido alvo de mais de 1800 escutas. O líder do PS nunca mais terá que se deslocar ao DIAP para prestar declarações. Neste Verão, pode estar de papo para o ar numa praia das Caraíbas e, quando quiser dizer alguma coisa ao juiz Rui Teixeira, é só pegar num telemóvel e telefonar a um amigo.»

Eis outra característica comum a muitos blogues: o sentido de humor. Cruzar a política com a ironia é a opção de Pedro Lomba, no blogue Flor de Obsessão, e dos anónimos autores dos blogues dos Marretas e Terras do Nunca. Cada qual à sua maneira, todos estão a contribuir decisivamente para alterar a substância e o tom do debate político em Portugal.

Autor: Pedro Correia
Local: Imprensa - Diário de Notícias
Data: 11 de Agosto de 2003
Comente, p.f.:
39. Luis Delgado, o controverso articulista, acaba de publicar uma brevíssima nota sobre os blogues no Diário Digital.

Anda uma grande excitação nos jornais portugueses sobre os «blogs», como se fossem uma novidade em Portugal. O «Diário Digital» disponibilizou esse serviço de weblogs no início de 2002, e sempre foi um sucesso. Permite a expressão directa dos leitores, reflexões sem intermediários, e a liberdade total de escrita. Tem um inconveniente para os comentadores «oficiais» e pagos: é que se passam a usar os blogs, deixam de ter interesse e valor. A que título é que os jornais, televisões ou rádios investem em líderes de opinião que opinam gratuitamente? É por isso que os blogs são um extraordinário sucesso popular desde 2001, noutros países, e em Portugal, mas nunca para «opinion makers».

Autor: Luis Delgado
Local: Jornalismo Digital - Diário Digital
Data: 11 de Agosto de 2003

This page is powered by Blogger. Isn't yours?